Você já deve ter ouvido falar que “vinho tinto faz bem para o coração”, certo? Porém saiba que um estudo recente afirmou que “não há quantidade segura de álcool” para a saúde humana, colocando em cheque a antiga crença de que um cálice de vinho ao dia faz bem para a saúde.
Por muito tempo, a opinião pública (e também de muitos médicos) dizia que tomar uma taça de vinho com o jantar não só não fazia mal, como também era bom para você. Porém, novos estudos estão fazendo as pessoas, e também muitos profissionais de saúde, mudarem de ideia.
O problema nos estudos antigos
No passado, muitos estudos apontaram que as pessoas que bebiam com moderação (até 2 doses de álcool por dia para homens, e até 1 dose para mulheres) tinham um fator de proteção na saúde, com menor risco de morrer por doenças cardíacas ou outras causas.
Aparentemente, o beber com moderação era favorável a saúde, enquanto que o consumo excessivo de álcool estava, e sempre esteve, relacionado com aumento significativo no risco de várias doenças, como obesidade, problemas de imunidade, desequilíbrios hormonais, infertilidade, diabetes, alteração na saúde intestinal, câncer, doenças neurológicas, e envelhecimento precoce.
Porém, pesquisas mais recentes revelaram um erro importante na metodologia dos estudos mais antigos. Um grupo internacional de pesquisadores percebeu uma coisa importante: à medida que as pessoas envelhecem e sua condição de saúde piora, elas tendem a parar de beber. Portanto, muitas pessoas param de beber porque não tem saúde suficiente para continuar bebendo, ou porque o médico contraindicou o consumo de bebida alcoólica. Portanto, se essas pessoas participarem de um estudo sobre o uso de álcool e forem colocadas no grupo de pessoas que não bebem, elas vão tornar a categoria dos abstêmios muito pior do que deveria ser. E quando essa categoria for comparada com aquela onde as pessoas bebem com moderação, os resultados dos estudos tendem a mostrar que o beber com moderação é bom à saúde.
Novos estudos, novas metodologias
Ao considerar como abstêmios as pessoas que haviam reduzido ou parado de beber recentemente por motivos de saúde ou outro qualquer, os pesquisadores cometeram um erro de classificação que tornou os resultados dos estudos tendenciosos. Porém, quando eles analisaram apenas os estudos que não cometeram esse erro, não conseguiram encontrar nenhuma evidência de proteção cardíaca oferecida pelo consumo de álcool.
Em outras palavras, estudos mais recentes feitos com metodologias mais corretas, separando os grupos de pessoas que nunca beberam, as que pararam recentemente por algum motivo, e as que continuam ingerindo bebidas alcoólicas, mostraram que o consumo moderado de álcool não tem efeito positivo na saúde do coração.
E o risco de câncer?
Mesmo que o consumo moderado de álcool tivesse algum benefício para o coração, sabemos que o consumo de álcool aumenta a probabilidade de contrair muitas outras doenças. Entre elas estão câncer de fígado, câncer de mama, câncer de cólon, câncer na boca, tuberculose, pancreatite, cirrose e outras doenças hepáticas, e muitas outras.
Ou seja, de nada adianta ter boa saúde cardiovascular e aumentar o seu risco de morrer de algum tipo de câncer.
Portanto, quando avaliamos se algum alimento ou bebida é benéfico à saúde, não podemos apenas avaliar o seu efeito na saúde cardíaca. É preciso avaliar os efeitos na saúde de forma completa.
Nesse pensamento, um importante estudo publicado na revista científica The Lancet, realizado por um grupo de pesquisadores internacionais que analisaram dados de 195 países, analisou os riscos do consumo de bebidas alcoólicas em 23 doenças. E qual a conclusão que eles chegaram? A quantidade de consumo de álcool considerada “mais segura” foi de zero drinques por dia.
Referências:
Daube M. Alcohol’s evaporating health benefits. BMJ. 2015 Feb 10;350:h407.